Festa da Cerejeira de Garça (SP): Cultura japonesa no interior paulista
Desde jovem sou fascinado pela cultura japonesa. Um dos meus sonhos é conhecer o Hanami Matsuri, a festa de contemplação das flores, onde os japoneses festejam a beleza do florescimento das cerejeiras na primavera. Por isso, imaginem a minha surpresa ao descobrir que existia um festival parecido no interior de São Paulo.
Neste artigo vamos conhecer a Festa da Cerejeira de Garça, um ótimo exemplo da riqueza cultural do interior paulista.
Índice
A Variedade Cultural do Interior de São Paulo
O Estado de São Paulo possui uma rica história de convivência entre os povos. Existem aldeias indígenas, comunidades quilombolas, grandes centros urbanos e cidades ribeirinhas relacionando-se no mesmo território.
Ao mesmo tempo, o estado também foi o destino de grandes correntes migratórias que fundaram diversas comunidades que mantiveram seus costumes originários. Exemplo disso são cidades como Holambra (holandeses), Pedrinhas Paulista (italianos), Americana (estado-unidenses), Paranapiacaba (ingleses), Rio Claro (alemães) e muitas outras espalhadas pelo interior.
A imigração japonesa ao Brasil também não foi excessão, estabelecendo várias comunidades no interior de São Paulo.
A Imigração Japonesa
Oficialmente, foi em 1908 que chegou o primeiro navio com imigrantes japoneses no Brasil. Ao longo do século XX, desembarcaram cerca de 200 mil japoneses, tendo como o principal porto de entrada a cidade de Santos (SP). Hoje, são mais de um milhão e meio de descendentes no país, fazendo do Brasil a maior comunidade japonesa fora do Japão.
Os estados de São Paulo e Paraná foram os maiores receptores dessa imigração. Diversas cidades surgiram nesses estados, além do famoso bairro da Liberdade na capital paulista.
Devido as diferenças culturais e linguísticas, essas comunidades acabaram se unindo de forma muito forte. Tal situação permitiu o surgimento de diversas associações culturais e sociedades que tinham como objetivo unir os integrantes, mantendo viva as suas tradições e costumes.
A cidade de Garça e suas primeiras cerejeiras
A cidade de Garça está localizada a cerca de 400 km de São Paulo, entre os municípios de Marília (SP) e Bauru (SP). Ela não foi fundada por japoneses, mas recebeu muitos membros nas imigrações do século XX. Como resultado surgiu uma forte comunidade nipônica na cidade.
As primeiras mudas de cerejeiras foram plantadas em 1979 pelo Sr. Nelson Koske. Conhecido como “o pai das cerejeiras”, Nelson era nascido em Oshima e sentia muita saudade das flores que via no Japão em sua juventude. Conseguiu trazer 150 mudas de Campos do Jordão (SP) e plantou em volta de um lago artificial que tinha acabado de ser inaugurado.
Todos os dias Nelson cuidava das cerejeiras, regando uma por uma todas as manhãs e plantando novas mudas sempre que surgia a oportunidade. Logo outros membros da comunidade japonesa se uniram ao esforço e criaram um espaço urbano único na região.
O clima brasileiro é muito rígido com as cerejeiras. Em muitos lugares até é possível plantar, mas raramente nasce flores em seus galhos. Por sorte, o clima de Garça é fresco e suave o suficiente para possibilitar o florescimento das cerejeiras. Assim, todo o esforço do Sr. Nelson resultou em um parque com quase mil árvores que anualmente surpreendem com suas flores.
A Festa da Cerejeira de Garça
O Tradicional Festival da Cerejeira começou em 1986, despertando a curiosidade das pessoas de toda a região. Atualmente, a festa atrai cerca de 250 mil pessoas procedentes de todo o país. Costumam ser 4 dias de festividades, com atrações culturais, músicas e exposições. Também são montadas 200 barracas cobertas para a comercialização de comidas, bebidas, roupas e artesanato.
Não existe uma data fixa para a festa, uma vez que ela depende do florescimento das cerejeiras. Geralmente ela acontece no inicio do inverno, entre Maio e Junho. Porém isso depende de muitos elementos naturais e condições meteorológicas ao longo do ano. É feito um cálculo pelos organizadores que estimam uma data aproximada para o início das festividades. Por isso é importante acompanhar o site da festa para poder organizar a sua viagem.
A Estrela da Festa: a Cerejeira
Sendo bastante sincero com nossos leitores, o que faz valer a pena ir até a Festa da Cerejeira de Garça são as flores de Cerejeira. Se as condições forem favoráveis as árvores se enchem de belos exemplares. São vários tons, avermelhados, brancos e rosados. Tudo isso ao redor de um lago que oferece um espetáculo maravilhoso.
A festa em si é bem diversificada. Na nossa opinião descaracterizou um pouco, pois oferecem muitas atividades não relacionadas à cultura japonesa. Isso é bem visível nas opções da praça de alimentação, com algumas barracas de comida asiática e outras tão diversas como hambúrgueres, churros e pizzas.
Assim, se o seu interesse é conhecer uma festa tradicional japonesa, existem opções mais interessantes pelo estado como o Festival Tanabata de Ribeirão Preto (SP) ou a própria festa japonesa que ocorre no bairro da Liberdade, em São Paulo (SP).
Mas se você quer ter a experiência de participar de um festival como o Hanami Matsuri ou simplesmente é apaixonado(a) pelas flores de cerejeira, a Festa da Cerejeira de Garça (SP) é uma opção interessante para ver esse incrível exemplo do amor da comunidade japonesa no Brasil por suas tradições ancestrais.
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Créditos da identidade visual do BEDA: Mariana Holtz estudante de design na Parsons New York. Mariana trabalha com ilustração de jogos e animações como o Geo Gravity e o The Magic Pencil, também já ilustrou livros infantis como o “imagine” além de ter um projeto de histórias em quadrinhos contra fake news o Camaleão Leo Instagram @Mah_artz.
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