bairro judeu Sevilha

Um Passeio Pelo Antigo Bairro Judeu de Sevilha

Um Passeio Pelo Antigo Bairro Judeu de Sevilha

Sevilha é um mundo de história dentro de uma só cidade. Neste post, vamos falar um pouco sobre o antigo bairro judeu, ou  “judería”, como é chamado pelos espanhóis.  Conheça sua história e as lendas que envolvem essa área da cidade. Uma caminhada por essa região é indispensável e encantadora!

 

O passado judaico de Sevilha

A região este de Sevilha, nas redondezas da Catedral, abrigou por séculos, um bairro judeu. Na verdade, se acredita ser o bairro judeu mais antigo da Espanha, já que se tem relatos da presença desse povo na cidade, desde a época romana. De fato, os judeus conviviam bem com os cristãos visigodos, época em que, supostamente, o bairro judeu se desenvolveu e floresceu nas demarcações que se tem hoje. Assim, o bairro judeu é anterior ao icônico Alcázar, com quem dividia a muralha.

Sevilha foi incorporada pela coroa castelhana no ano de 1248. Na época, ainda que houvesse habitantes cristãos e judeus, a região era povoada majoritariamente por muçulmanos. Até então, as três religiões conviviam pacificamente. Cabe ressaltar que os muçulmanos conquistaram a região, no século VIII, e que a ocupação árabe por cerca de 5 séculos justifica características tão marcantes da cidade, principalmente na arquitetura.

Com a expulsão dos árabes, a cidade precisou ser repovoada, e então, muitas famílias judias se estabeleceram ali. Todas as mesquitas foram transformadas em igrejas, com exceção de três, que se tornariam sinagogas. Com o tempo, os judeus foram conquistando importância na cidade e construindo outros templos.

Ao longo da história da capital andaluz, os judeus se estabeleceram, sobretudo, nos bairros a que hoje chamamos Santa Maria La Blanca, São Bartolomeu e Santa Cruz. Portanto, o bairro era de grande extensão, estando adjunto às muralhas do Palácio Real de Alcazár. Inclusive, há uma pequena porta nos muros do Alcázar que ligava diretamente com o interior do palácio. Isso porque na época medieval, muitas restrições cristãs impediam o que algumas ciências, como a Medicina, fossem estudadas com maior detalhe. Segundo o que se conta, esta pequena porta era uma passagem para que um médico judeu atendesse às emergências dentro do palácio, já que estes, podiam estudar a anatomia humana, portanto, avançaram nos estudos e possuíam melhores profissionais.

Juderia
O bairro estava instalado junto das muralhas do Alcazar

As portas e muralha do bairro judeu

O bairro, amuralhado, possuía outras três grandes portas, incluso, pela Puerta de la Carne, se tinha uma saída direta às aforas da cidade, e ao cemitério. Aliás, tem esse nome porque durante a Idade Média, dava acesso para um matadouro.

Infelizmente, nada resta do cemitério judeu, que ocupou uma grande área que hoje equivale a uma parte dos Jardins de Murillo e o estacionamento subterrâneo Cano y Cueto. Um dado curioso é que há, dentro do estacionamento, um pedaço da escavação do cemitério. Nada que realmente valha a pena a visita, já que acaba ficando escondido pelos carros estacionados. Mas se vai à Sevilha, fica a referência de onde estavam os campos e cemitério judeu da cidade.

Próximo à Catedral havia outra porta. A terceira é a Porta de San Nicolás, que fica no início da (atual) Rua São José.

Mas havia ainda, uma porta pequena, junto ao Alcazár, chamada Puerta del Altambor, ou Puerta del Tambor, cujo nome fazia referência tanto à sua abertura, como seu fechamento, ao som dos tambores da guarda real.

Sinos e tambores: o toque de recolher

Diferentemente da Puerta del Tambor, as outras portas eram fechadas às 18 horas, quando os sinos das igrejas soavam o Toque de Angelus. Na crença cristã, esse era um dos momentos em que se devia parar seus afazeres e se colocar em oração, agradecendo as realizações do dia. As portas do bairro judeu só seriam abertas na manhã do dia seguinte.

Em realidade, estes toques funcionavam de maneira similar a um toque de recolher. Como é sabido, os judeus sofreram diversas ondas de perseguição religiosa ao longo de sua história. Por isso, muitas vezes, os judeus se agrupavam em uma determinada área. Como citei, o bairro judeu de Sevilha era amuralhado. A muralha foi construída ainda durante a época visigoda. Embora houvesse uma convivência com os cristãos, já se notava tensões religiosas. Assim, a construção da muralha foi uma maneira encontrada para a segregação dos judeus em uma determinada área da cidade. De certa forma, no entanto, também servia como proteção.

Portanto, durante a Idade Média sevilhana, por exemplo, os toques de recolher serviam tanto para alertar os judeus que estavam fora do bairro, chamando-os para que retornassem, quanto para os cristãos que estavam dentro saíssem, uma vez que não era permitido que cristãos pernoitassem no bairro judeu.

Uma parte da muralha ainda está preservada na Rua Fabíola. Outra parte, está demarcada no chão da Rua Mateos Gago. Esta demarcação provém de uma escavação realizada entre os finais da década de 80 e início da década de 90. Acredita-de que a muralha teve função até o ano de 1391, quando os judeus foram definitivamente expulsos do reino cristão.

 

Muralha Bairro judeu Sevilha
Restos da muralha do bairro judeu, na Rua Fabíola

 

+ Leia também: As laranjeiras das ruas de Sevilha

 

A triste história de perseguição judaica

No final do século XIV, quando os judeus foram expulsos do Reino de Espanha, cerca de 500 famílias judias viviam em Sevilha. Isto é, quase um quinto da população. Em seu esplendor, o bairro judeu possuía um sistema de organização próprio, chegando a ter, inclusive, um prefeito.

Um exemplo bastante chocante dos ataques sofridos pelos judeus, foi o massacre de 1391, quando um grupo de cristãos invadiu o bairro, saqueando as casas, incendiando o comércio e as sinagogas, matando cerca de 5 mil, dos 6 mil judeus viventes no bairro.

Estes ataques, em geral, eram incentivados pelo pensamento de que o povo judeu havia condenado e matado Cristo, e que era responsável pela pobreza e enfermidade do povo cristão. Isso porque muitas vezes, os judeus eram mais instruídos que os cristãos, e acabavam ocupando cargos importantes na administração da cidade, do comércio e de bancos. Já a população cristã, submetida a duríssimos dogmas, acabavam dirigidos para o trabalho no campo, sem poder desfrutar de comodidades.

Essas diferenças, e o fato de viverem segregados, alimentavam o preconceito, transformando os judeus em bodes expiatórios para problemas como pragas, faltas de colheitas ou desaparecimento de crianças. Este ódio era muitas vezes alimentado por altos cargos da igreja, que aproveitavam as tensões para ganharem popularidade entre as massas menos esclarecidas.

E quando essa insatisfação chegava ao ápice, grandes ataques eram dirigidos à população judaica.

 

A revolta contra os judeus

No ano de 1391, houve em Sevilha, uma série de ataques aos moradores judeus. Documentos demonstram um primeiro ataque em 15 de março e outro, mais grave, em 6 de junho. Foram atos de saqueio, matança, incêndios e também, conversões forçadas. Os atos se espalharam também por outras cidades como Córdoba e Toledo, entre outras.

Os episódios de revolta têm origem a partir de descontentamentos com a coroa castellhana, mas também foi incitada por clérigos de alto escalão.

Mais de 5 mil judeus foram mortos e os que restaram, tiveram que se converter ao cristianismo, para que lhes fossem poupadas as vidas.

 

Rua Vida e Rua da Morte

Duas ruas paralelas guardam lendas deste triste evento. A rua Vida (Calle Vida), fica paralela às muralhas do Alcazar. Segundo as lendas, um dos guardas desta porta, informado de que haveria a revolta, conseguiu evacuar centenas de judeus por aquela rua.

Já a Rua da Morte, hoje Rua Susona, conta uma história de amor e traição. Susona era uma jovem judia, de família influente e mantinha em segredo, um relacionamento com um cristão, também de uma prestigiosa família. O pai de Susona, Diego Susón, cansado do assédio sofrido pelos judeus naquela época, reuniu alguns comerciantes em sua casa e encabeçou uma rebelião. Susona, que apaixonada, desejava converter-se ao cristianismo e casar-se com seu amado, ouviu os planos do pai e correu para informar-lo. Este, a tranquilizou e pediu que a jovem voltasse para casa, para não levantar suspeitas. Conta-se que ao chegar em casa, a moça se deparara com com a prisão de todos os que estavam na casa, que logo depois, foram executados por traição.

Desolada, Susona foge para a catedral e converte-se ao cristianismo. Seu amado a rechaça, dizendo que não seria capaz de confiar na moça, já que esta havia traído sua família e seu povo. Alguns dizem que ela tornou-se monja, para não sofrer perseguições do povo judeu, outros, que ela se recusou em casa. Mas que deixou um testamento solicitando que após sua morte, sua cabeça fosse separada do corpo e exposta na casa que foi de sua família, para que quem por ali passasse jamais se esquecesse do ocorrido. Seria essa a mensagem deixada em seu testamento: “E para que sirva de exemplo para os jovens em testemunho de minha miséria, ordeno que quando eu estiver morto eles tirem minha cabeça do meu corpo e a prendam em um prego sobre a porta da minha casa, e ali permanecerá para sempre e sempre”.

 

Rua da Morte
Rua da morte

 

+ Leia também: Conheça Itálica, a mais antiga cidade romana da Espanha

 

A cristianização do bairro judeu

Após a expulsão dos judeus, as sinagogas foram transformadas em igrejas. Das três iniciais, uma delas é a Igreja de Santa Maria a Branca, que ainda guarda traços de seu passado. Outra sinagoga foi transformada na Igreja de São Bartolomeu. A terceira deu lugar à Igreja da Santa Cruz, que abrigou os restos mortais do famoso pintor Murillo. Porém, o templo foi expropriado e demolido em 1810, durante a ocupação francesa. Atualmente, o local abriga a Praça da Santa Cruz. Em seu centro está a Cruz de la Cerrajería, adornada com serpentes e anjos. Vale lembrar que estas três eram, na verdade, mesquitas convertidas em sinagogas.

Da mesma forma, o bairro passou a abrigar a população cristã, alguns deles, judeus convertidos. Por ser uma localidade central, palacetes foram construídos na área e habitados por nobres e artistas. A região está repleta de praças e fontes. Caminhar pelas estreitas ruas, revela muitos detalhes.

Na atualidade, abriga boa parte dos hotéis e pousadas do centro histórico, bem como charmosos restaurantes e bares de vinhos e tapas. É menos boêmio que o famoso bairro de Triana, mas certamente é uma das principais regiões visitadas pelos turistas.

 

Gostou deste post sobre o antigo bairro judeu de Sevilha?

Então não se esqueça de comentar o que achou deste post! E continue nos acompanhando que em breve falaremos mais sobre essa cidade maravilhosa! Você também pode, se inscrever na nossa Newsletter e receber os conteúdos fresquinhos!

Compartilhe o nosso conteúdo em suas redes sociais! Assim você ajuda nossos posts a chegarem em mais pessoas!

Um abraço e até breve!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima