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Conheça Itálica, a mais antiga cidade romana da Espanha

Conheça Itálica, a mais antiga cidade romana da Espanha

Este é mais um post para os amantes de destinos históricos. Nele, vamos contar tudo sobre Itálica, uma próspera cidade romana, berço de imperadores e que recentemente, serviu de cenário para a famosa série Game of Thrones. Na atualidade, é um museu a céu aberto, a apenas 14 quilômetros de Sevilha, na Espanha.

Nós do Viaje Cartesiano somos aficionados por destinos históricos. Além de despertar a imaginação, também traz muitas reflexões. E sem dúvidas, o Império Romano é uma parte da História que nos chama muito a atenção, principalmente nas áreas da engenharia e arquitetura. Por isso, na primeira oportunidade que tivemos, fomos visitar os vestígios arqueológicos de Itálica, fundada no ano 206 a.C..

 

Fundação e história

Embora existam registros indicando que a região tenha sido habitada anteriormente à chegada dos romanos, considera-se que Itálica foi fundada no ano 206 a.C.. Foi a primeira cidade romana da Hispânia. Originou-se durante as Guerras Púnicas, mais precisamente, quando o exército de Públio Cornélio, o Africano, instalou-se numa antiga vila para cuidar de seus soldados feridos. Ali também estabeleceu um destacamento de seu exército, criando uma colônia militar, a qual deram o nome de Itálica.

A cidade floresceu e ao final do conflito entre os generais Pompeo e Júlio César, este último esteve em Itálica. Em agradecimento ao apoio durante as guerras, no ano de 45 a.C., elevou o status da vila à município.

Entre os séculos I e II, a cidade atingiu seu maior esplendor. Nesta época, estima-se que a cidade tivesse por volta de 10 mil habitantes. De certa forma, o fato de dois grandes imperadores, Trajano e Adriano, terem nascido em Itálica, ajudou na fama da cidade. Foi também durante o comando destes imperadores, que importantes obras foram realizadas, e houve uma melhora significativa na economia local. Nesta época, se deu início a uma ampliação da cidade, em direção ao norte. Infelizmente, essa ampliação não foi concluída. Contudo, esta é a parte em que se concentraram as escavações e estudos e que, portanto, situa-se o Conjunto Arqueológico de Itálica.

Nesta área, supõe-se ter estado os mais nobres moradores, já que os terrenos são amplos, as ruas calçadas e as ruínas das mansões estão repletas de mosaicos.

 

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Ilustração de Itálica, por Francisco Salgado Fernández

 

Santiponce e a história antiga de Itálica

Como mencionei anteriormente, as escavações da suntuosa Itálica concentra-se no que se refere como parte nova da cidade. Isso porque a parte antiga se manteve ocupada após significativa diminuição da população a partir da cristianização do local, no século VI. Ao final, Itálica nunca foi totalmente abandonada. A população concentrou-se na parte onde a cidade teve sua origem.

No ano de 1301, o monastério de San Isidoro del Campo instala-se nas imediações de Itálica. Os montes, apresentavam bastante interesse e já naquela época, começaram a estudar o passado romano da área. Na mesma época, a população volta a aumentar.

Assim, Itálica sofreu as transformações de cada época, até os dias de hoje. Na atualidade, o município chama-se Santiponce. Por isso, fica difícil contar toda a história de Itálica. Não é possível escavar outra área, que não a que faz referência às suas ampliações.

Contudo, algumas estruturas remanescem, permitindo que tenhamos alguma idéia do passado grandioso de Itálica como uma todo.

 

Aqueduto

Talvez uma das coisas mais interessantes do planejamento romano na construção das cidades seja a sua relação com a água. Os romanos conheciam bem sua importância no cotidiano e portanto, tratava-se de um ponto chave o assentamento em um local. Mas não necessariamente, a fonte de água deveria estar perto do assentamento. No mundo romano, não faltam exemplos de construções quilométricas, em busca de garantir abastecimento de água aos seus centros.

Em Itálica não foi diferente. Havia a premissa romana de garantir água limpa, de qualidade, de maneira contínua e permanente. Assim, no século I a.C., aquedutos levavam água desde o Rio Guadiamar, na altura do município de Gerena. Contudo, as ampliações da cidade, iniciadas pelo Imperador Adriano, exigiam um sistema de abastecimento reforçado. Os engenheiros romanos tiveram que fazer ampliações e construíram um aqueduto com mais de 35 quilômetros de comprimento, desde as Fuentes de Tejada.

Além da grandiosidade da construção, também deveria ser agradável aos olhos. Por isso, os aquedutos de Itálica estavam adornados com ladrilhos.

Havia ainda, um sistema complementar que auxiliava na garantia da qualidade da água. Alguns quilômetros antes dos tubos chegarem à Itálica, havia uma profunda cisterna. Esta não serviria ao acúmulo de água, mas sim, como um tanque para decantação da água. Neste sistema, a água chegava à cisterna com uma velocidade menor que nos tubos do aqueduto. Isso permitia que os sedimentos baixassem ao fundo da cisterna, depurando a água. Na parte de cima da cisterna, local onde a água encontrava-se mais limpa, eram instalados os canos que levariam a água para a cidade.

A parte nova da cidade de Itálica contava com um moderno sistema de abastecimento e escoamento de água. Por isso, além das fontes públicas da cidade, algumas casas também possuíam fontes privadas e até cisternas.

 

O Teatro Romano

Este foi o primeiro grande monumento de Itálica. Demorou um século para ser construído, tendo seu início no século I a. C., e seu término, no século I d.C.. Uma das curiosidades é que a construção foi feita a partir do aproveitamento de um desnível da área. Possuía capacidade para 3 mil pessoas e acredita-se que tenha sido utilizado até o século V. Ainda que se conhecesse o local onde se encontrava o antigo teatro, ele foi escavado apenas no início da década de 1970, e restaurado nos anos 80.
Infelizmente, as condições de conservação do teatro não é das melhores. Mas ainda assim, se pode ter uma idéia da grandiosidade que apresentava em seu tempo. Ainda assim, é possível visitar o local, que está à 700 metros do Conjunto Arqueológico de Itálica, na região oeste do município de Santiponce. Na atualidade, recebe o Festival de Teatro de Itálica.

Teatro Itálica
Teatro de Itálica, em Santiponce. No início de 2022, estava fechado para visitação.

 

Leia também: Conheça Mérida e o Passado Romano da Espanha

 

Que ver no espaço do Conjunto Arqueológico de Itálica

Na atualidade, é possível visitar as ruínas da parte mais nova da cidade, que se mantém bem preservadas. Desde Sevilha, é possível contratar algum serviço de guia, que pode até incluir o transporte em ônibus. Os valores podem variar, mas fica numa média entre 20 e 40 euros por pessoa.

Para quem quer economizar, também é possível fazer a visita sem guia, e o preço é de 1,50 euro para entrar. Para cidadãos da U.E., a entrada é gratuita.

Como se sabe, os romanos costumavam planificar as cidades, antes mesmo de sua construção. Com Itálica não foi diferente. A cidade possuía ruas amplas e quarteirões retangulares. As construções de uso público, como termas, teatro e templos, possuíam dimensões grandiosas, bem como casas de nobres da época.

Após a queda do Império Romano, as prestigiosas famílias de Itálica perderam sua influência. Algumas casas foram ocupadas e até modificadas. Mas com o tempo, a cidade foi abandonada, expolida e esquecida. Mas sua fama foi lendária. Por isso, desde o século XVI, curiosos e cientistas vieram trabalhando em sua restauração e conservação. E é graças a essas tantas gerações, que hoje podemos desfrutar de algumas estruturas, e imaginar o passado da cidade, enquanto caminha por suas ruínas.

 

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Ruínas de uma casa. Ao fundo, o povoado de Santiponce, que toma lugar da parte mais antiga de Itálica.

 

As Muralhas de Itálica

Itálica foi uma cidade amuralhada. Tanto por questões defensivas, como religiosas, já que acreditava-se que a influência dos deuses e de seus templos alcançavam o perímetro demarcado pelas muralhas. Suas muralhas encerravam cerca de 50 hectares de terras. Isso significa 3 km de extensão, e possuía 1,5 m de grossura. Foi construída (e ampliada) ao longo de diversas épocas.

Os restos que se vê hoje, faz parte das ampliações da cidade e está na intersecção de duas ruas. Também dava acesso ao anfiteatro que, portanto, localizava-se extramuros.

 

As Ruas de Itálica

A parte nova da cidade foi totalmente planejada. Suas ruas eram amplas, medindo entre 7 e 8 metros de largura. Possuía galerias subterrâneas de abastecimento e escoamento de água. Cada quadra media em torno de 1500 m. As ruas se cruzavam em ângulos retos, ou seja, as ruas eram paralelas entre si. Além disso, as calçadas eram porticadas e abrigavam diversos comércios.

Uma vez que se cruza as antigas muralhas e se tem acesso ao antigo espaço urbano, se tem uma boa visão do que acabei de descrever. Ainda se observa o contorno das quadras cortadas pelas largas ruas.

E quando acessamos a rua Cañada Honda, que fica no ponto mais alto da antiga cidade, verificamos as casas mais importantes. Isso porque esta era a rua que ligava a parte antiga com a parte nova. Esta deveria ser a rua mais movimentada da cidade, concentrando ali, as tabernas.  Dava acesso à saída da cidade, pela Via Augusta. Desde este ponto, se observamos a cidade ao horizonte, podemos ver as marcas da antiga rua descendo em direção à Santiponce, encoberta pela grama.

 

Ruas
Ruas de Itálica

 

Termas

As termas eram de grande importância na cultura romana. O espaço público era frequentado por todos os cidadãos, homens e mulheres, de distintas classes sociais. Ali se praticava esporte, cuidava-se do corpo e da higiene pessoal, e também se socializava ou fazia reuniões (políticas ou de negócios). As Termas Maiores de Itálica chegou a ocupar uma área superior a 30 mil metros quadrados.

 

Termas
Termas Maiores

 

Estabelecimentos comerciais

As casas da parte nova da cidade eram amplas, permitindo que estabelecimentos comerciais fossem instalados em uma de suas fachadas. Assim, as lojas davam para as ruas, e possuíam uma estrutura portada, que influenciava na estética e no conforto cotidiano de seus residentes e usuários. Os estabelecimentos, em geral, não eram de posse dos donos das casas, e sim, uma área que estes alugavam para comerciantes.

Os estabelecimentos comerciais eram bastante variados, indo desde tabernas, padarias, até comércios de artigos de luxo, vindos de outras regiões do Império Romano.

 

As Casas

Ainda que uma pequena parcela de Itálica tenha sido escavada, o que foi revelado nos conta muito sobre a cidade. Além de descrever a estrutura planificada e luxuosa, deu luz a elementos incríveis. Em sua maioria, mosaicos que agora dão nomes às construções. A Casa dos Pássaros por exemplo, esteve adornada com motivos de aves, apreciadas na época por sua beleza. Já a Casa do Planetário, com figuras dos deuses associados com o modelo planetário da época. No Edifício Exedra, um edifício público frequentado por toda a população, além de um diferente mosaico feito com diferentes tipos de mármore, também se pode observar estruturas de uma terma pequena e de um banheiro público.

Infelizmente, por questões religiosas, ou por espólio, não restou muito de um dos edifícios de maior grandiosidade: o templo dedicado ao Império Trajano.  Além de ocupar um espaço maior que o comum, exibia altas colunas em mármore.

 

Casas Itálica
Mosaicos da Casa do Planetário. Pode-se notar que a vivenda abrangia uma grande área. Estávamos posicionados mais ou menos no centro da casa.

 

Anfiteatro Romano

O anfiteatro foi uma das construções mais “recentes” de Itálica. Sua construção se deu no século I d.C., na administração do Imperador Adriano. Tinha capacidade para 25 mil pessoas, mais que o dobro da população local. O que quer dizer que recebia, em seus eventos, expectadores de toda a região. Ali ocorreram diversos tipos de jogos, inclusive, as famosas lutas entre gladiadores e entre animais.

Apesar seu estado de conservação estar bastante prejudicado, entrar no local ainda nos reporta a remotos tempos. Embora não seja muito afeita ao propósito dos anfiteatros da era romana, compreendo seu valor e a grandiosidade da obra. O   cenário é tão imaginoso e inspirador, que deu forma ao Fosso dos Dragões, da série Game of Thrones. Algumas cenas da 7ª e da 8ª temporadas foram filmadas neste anfiteatro.

 

Anfiteatro romano

 

Leia mais sobre destinos históricos em: Viagens Inesquecíveis

 

Como chegar em Itálica

Como o Conjunto Arqueológico de Itálica fica a apenas 14 quilômetros de Sevilha, este é o ponto de referência de quem pretende visitar o local. E apesar de sua proximidade com a capital andaluz, o sítio arqueológico está situado no município de Santiponce.

Desde o centro de Sevilha, saem ônibus para o destino, a cada 30 minutos. O valor da passagem é de €1,65 (Fev./22), e o tempo do trajeto é de 30 minutos.

Como o trajeto é plano, ainda há a possibilidade de alugar uma bicicleta. Aqui vale saber que Sevilha incentiva o transporte em duas rodas e existem diversas empresas de aluguel, além de milhares de bicicletas, espalhadas em diversos pontos da cidade. Existem ciclovias por toda a cidade e arredores. Mas leve em consideração também que o lugar possui diversos monumentos, e que você provavelmente passará algumas horas caminhando por entre as ruas da antiga cidade.

Mas se for viajar de carro, é só seguir pela SE-30, e depois pegar a N-630 a té Santiponce, e depois seguir pela Avenida de Extremadura.

 

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Esse post faz parte da blogagem coletiva do grupo Crescendo Juntos, cujo tema é “Destinos Históricos”.

Visite os posts dos outros participantes. Certamente você vai encontrar indicações maravilhosas:

O Rodrigo Schmiegelow, do O Mundo em Lanches escreveu sobre “Cinco imperdíveis pontos históricos de Paraty“.

No Bate Papo Blog, a Jéssica Soares fala sobre “Pubs Historicos: Pubs Antigos em Londres“.

E no Rendas Casa e Saúde, o Moisés escreve sobre  “10 cidades históricas em Minas Gerais para viajar“.

O Raphael Pimentel do Destino de Casal  escreveu o post “Vou me embora pra Pasargada – O que visitar no Irã” .

No blog Descobrir Viajando da Patrícia,  vocês poderão ler “Descobrir Guimarães, o berço de Portugal“.

O mineiro Luis Moura, do O Mundo É Seu, escreveu “Ouro Preto: Dicas para não passar perrengue“.

Por fim,  o texto do Moisés Batista do Viajando com Moisés: “São João Del Rei, O que fazer nessa cidade que tem pontos turisticos sensacionais“.

Então é isso!

Um abraço e até breve!

2 comentários em “Conheça Itálica, a mais antiga cidade romana da Espanha”

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