Dicas para se preparar para o Caminho de Santiago
Já falamos aqui, um pouco sobre o Caminho de Santiago de Compostela. E agora, neste post, vamos dar algumas dicas do para aqueles que querem fazer o caminho. São dicas do que levar ou de como se preparar, e que valem para qualquer rota. Mas também é importante colher outras orientações a respeito das características e necessidades específicas da rota que você escolheu.
Entretanto, este post acabou ficando um pouco longo e denso, mas acredito que este tipo de situação merece muita atenção aos detalhes. Dividimos por tópicos, para que possam ler todo, ou ir direto às principais dúvidas!
Índice
A saúde.
Vimos pessoas de todas as idades fazendo o caminho de Santiago, desde crianças a idosos. Mas isso não quer dizer que seja algo tão simples assim, e todo cuidado é pouco! O ideal é fazer um checkup para verificar a imunidade, a capacidade cardíaca e ortopédica, pois o desgaste físico será grande! Os diabéticos também devem consultar seus médicos, uma vez que ferimentos como bolhas são muito comuns durante o percurso. Alguns médicos (como foi no nosso caso) podem ainda fazer a indicações de pomadas ou outros medicamentos que ajudarão a reduzir as dores. Os cuidados com a saúde devem ser realizados antes da viagem, e sobretudo, durante o trajeto, o que nos leva ao próximo tópico:
Seguro de viagem.
Os cuidados com a saúde devem ser realizados antes, durante e muitas vezes até depois da conclusão do percurso. Por isso, além de seguir todas as orientações médicas durante a viagem, é importante saber que poderá contar com auxílio médico caso necessite, e para isso, há que se contratar um seguro de viagem. Em breve, falaremos aqui no blog sobre o seguro viagem, e a sua importância (que vai além das exigências de fronteira)
Preparo físico
É indispensável ter um excelente condicionamento físico? Não! Mas é essencial não ser sedentário. Quanto maior o seu preparo físico, melhor será o seu desempenho!
Mas o caminho não é uma aposta de corridas, ou a tentativa da quebra de recordes. É uma experiência sobre si mesmo, suas capacidades e dificuldades, sobre superação e autoconhecimento. Então se você tem um preparo físico que não te permita caminhar 30 km por dia, caminhe 15 km e faça em mais tempo (o que tem muitas vantagens!).
Apenas certifique-se de que há cidades com capacidade para receber peregrinos nesse percurso. No mais, assim que decidir por tal tipo de viagem, comece a pelo menos fazer caminhadas mais longas, em aclive/declive, e se possível, faça musculação em uma academia.
A escolha da mochila
Este é um ponto muito importante. A mochila, provavelmente será a sua companheira de todas as horas, cabendo a atenção não só de não exagerar (o peso) em sua montagem, como de escolher um modelo que permitirá que você a carregue sem sobrecargas à sua coluna, ombros, quadris e joelhos!
Para tal, é importante ir às lojas de material esportivo e de camping e provar diversos modelos. Se for possível, peça ajuda aos profissionais da loja, para que te expliquem os dispositivos, vantagens e desvantagens de cada modelo. Lembre-se de que a mochila deve se ajustar ao seu corpo para não ficar balançando. Por isso, é importante que tenha vários dispositivos de ajustes e que possua certa rigidez. Geralmente as que possuem material acolchoado e alças mais grossas são mais confortáveis.
O tamanho também deve ser adequado tanto ao propósito da viagem, quanto aos seu tipo físico, para não ficar desajeitado e acabar descompensando algum músculo.
Na hora de montar a mochila, não se esqueça de balancear o peso dentro dela, para não acarretar prejuízos físicos. Lembre-se de que sempre que temos uma dor intensa ou dificuldade em um lado do corpo, tentaremos compensar com o outro, o que vai gerar um problema secundário, ou uma reação em cadeia.
Aqui, vale lembrar que os bastões não poderão viajar na cabine do avião, e até mesmo pelas dimensões da mochila, ela provavelmente irá no compartimento das bagagens. Então fica a dica de embalar a mochila naquelas empresas do aeroporto antes de despachá-la, pois isso evitará maiores danos. Fizemos isto e, quando recebemos as mochilas na esteira, vimos o estrago que evitamos.
Quais roupas levar?
Neste quesito não dá para cometer excessos! Você deverá escolher poucos pares (três ou quatro). Pense em roupas leves e apropriadas para as longas caminhadas, que sejam absolutamente confortáveis! Evite roupas que possam causar alergias ou assaduras! Isso serve para as roupas íntimas também!
As épocas ideais para a se fazer o caminho são as de clima mais ameno, isto é, outono, primavera ou no final do verão. Ainda assim, faça uma mala que comporte temperaturas variadas. Escolha um bom agasalho e algumas peças de calor. Pode ser vantajoso escolher calças ao invés de bermudas. Isso porque as rotas são sinalizadas a fim de evitar, sempre que possível, que os peregrinos andem pelas estradas, então boa parte das rotas são feitas dentro dos bosques. Além da presença de insetos (como as vespas na Galícia, que picam dolorosamente), muitas plantas podem conter espinhos. Isso sem contar nas moitas de urtiga, tão presentes no caminho. Enfim, mas aí vai da preferência de cada um, apenas saiba que pode se deparar com cenários como este.
Não existem regras estritas sobre o que levar na mochila, mas certamente terá que escolher os itens de maior necessidade. Lembre-se sempre de que o peso dela é aquilo que você carregará por tantos quilômetros. Inclusive, alguns profissionais falam sobre o peso máximo ser de 10% do seu peso corporal. A minha sugestão é fazer a mochila com tudo aquilo que você acredita que irá precisar e ir pesando e descartando os itens relativamente supérfluos.
Lave as roupas sempre que possível.
Como se leva poucas peças de roupas, haverá a necessidade de lavá-las ao longo do percurso. Embora alguns albergues ou cidades tenham lavanderia (em geral, de auto-atendimento), nem todas possuem secadoras, então você terá que contar com a sorte da roupa secar para não acabar carregando mais peso. Por isso, dê preferem aos tecidos leves e de fácil secagem. Isso serve também para a toalha de banho.
Meias e Calçados
Os cuidados diários com os pés são de suma importância! Um bom tênis ou uma bota de trilha dão conta do recado, desde que estejam em boas condições e não estejam muito justos ou muito folgados nos pés. A vantagem da bota é ela ser impermeável. Então nos dias chuvosos (provavelmente haverá!) seus pés passarão mais tempo secos, ou nem virão a se molhar, evitando a ocorrência de bolhas, frieiras ou fungos. Alguns albergues têm dispositivos para secagem dos calçados, outros não. Os que têm, também podem estar lotados por conta da quantidade de peregrinos hospedados. Ao chegar na cidade, se for possível, compre jornais para colocar dentro dos calçados, pois ele ajuda a drenar a água. Fazer uma caminhada longa com um calçado molhado pode ser desastroso! Então cuidado. Evite ficar com os pés molhados sempre que possível.
É preciso levar sandália?
Eu diria que seja recomendado! Se os pés estiverem muito cansados ou com muitas bolhas, o uso da sandália (mesmo que com meias) é o mais adequado. Mas a sandália deve ter a mesma maciez de um tênis ou bota. No Brasil às vezes é difícil encontrar um modelo que não seja duro. Procure bem. Todo conforto e cuidados com os pés ainda será pouco!
Quanto às meias, devem ser preferencialmente em algodão, e não podem ser velhas, a ponto de terem perdido a elasticidade. A fricção da meia com os pés pode causar feridas!
Eu cheguei a ler diversos posts antes de escolher. Alguns diziam para usar meias grossas, outros para usar duas meias, outros para não usar duas meias, enfim. Atualmente, as lojas esportivas podem te apresentar modelos de meias variados que podem promover proteção e boa aderência aos pés. Por isso, talvez seja ideal não colocar mais de uma meia, para evitar a fricção entre os tecidos e seus pés. Procure um modelo com o qual se sinta confortável e teste alguns dias antes.
Capas de chuva ou guarda-chuvas?
O uso do guarda-chuvas é opcional, mas a capa de chuva ou poncho é obrigatório! Inclusive para a mochila! Aliás, boa parte das mochilas já vêm com este acessório, ou existe um modelo da marca que você pode adquirir.
É importante também que a capa de chuvas seja grande (larga) o suficiente para incluir a mochila. Por isso, o poncho pode ser uma opção mais viável. É que nem sempre a capa da mochila vai conter a água, além de que, se a água escorre entre suas costas e a mochila, molhando as alças e a parte acolchoada. Assim, além de pesar mais, vai gerar desconforto e pode até machucar.
Uso de fármacos
É importante ter em mãos alguns itens referentes à saúde. Por isso sugeri a consulta médica, para poder ter orientações sobre uso de relaxantes musculares e anti-inflamatórios de longa duração, além de pomadas para alívio da dor. Você vai usar muita pomada! Leve para iniciar a jornada apenas, e vá comprando ao longo do caminho. Também é interessante ter pomadas bactericida, para micoses, frieiras e fungos, spray antisséptico, curativos e esparadrapos. Utilize os esparadrapos para reforçar os curativos, ou para unir os dedos (um velho truque que as mulheres usam para melhorar o conforto em certos tipos de calçados). Entretanto, tome cuidado para não comprimir os dedos, e lembre-se de que os pés devem inchar com a caminhada.
Aqui na Europa, é muito comum a venda de um produto chamado compeed, que é um curativo aderente à pele e auxilia no tratamento de bolhas. Vale a pena comprar uma caixa quando chegar no lugar de partida. Ma atente-se às instruções de uso!
Você provavelmente passará por vilas muito pequenas, onde o comércio tem um horário de funcionamento muitas vezes estrito. Então verifique sempre, antes de começar o seu dia, se falta algum medicamento, pomada, curativo, comida ou água, e compre assim que possível, principalmente às sextas-feiras ou sábados, pois aos domingos, possivelmente nada (nem farmácias) estará funcionando.
Bastões
Os bastões de caminhada também são opcionais, mas saiba que são muito úteis, principalmente por servir de apoio nos trechos mais acidentados e escorregadios ou durante as subidas, ou para evitar ataques de animais.
Adquira os que têm a possibilidade de ajuste, para que se possa utilizar na altura adequada para si.
Albergues ou hotéis?
Nas cidades maiores você pode escolher ficar em hotéis, sabendo que os preços são pelo menos o dobro do que irá pagar nos hostels.
As cidades menores possuem albergues, que podem ser públicos ou particulares.
Nos albergues públicos você paga uma taxa simbólica ou não paga nada. Em geral são bastante modestos e para garantir a sua vaga, você deve chegar bem cedo, pois as vagas são por ordem de chegada. São espaços simples, mas em geral, limpos e com camas confortáveis. Os demais acessórios como varais, aquecimento, cozinha equipada, variam.
Já os albergues privados, possuem uma estrutura melhor, com um preço acessível, entre 10 e 20 euros por pessoa, sendo que você pode reservar uma vaga ou até mesmo um quarto (normalmente, com capacidade para 4 pessoas), e possuem uma estrutura que oferece maior conforto, como um chuveiro melhor, ou maior quantidade de duchas, máquina de lavar, aquecimento, enfim, opções básicas, mas que te garantem uma estadia mais confortável.
É útil levar um saco de dormir, adequado para as temperaturas que vai pegar ao longo da caminhada, pois alguns albergues privados não oferecem lençóis, e boa parte dos públicos também não.
O consumo de bebidas e alimentos dentro dos hostels, muitas vezes funciona da seguinte maneira: você pega um item e deixa uma moeda com o valor indicado para aquele item. Se não houver uma tabela de preços, ou a quem questionar, provavelmente você deve deixar o valor que acredita que aquilo valha. É uma estratégia que ocorre principalmente nos albergues públicos, como uma forma de contribuição com o funcionamento deste.
Comer barato
Ao longo do caminho, você encontrará diversos restaurantes com a opção “Menu do Peregrino”. Essa provavelmente será a opção mais barata e substanciosa que você vai encontrar. Isso porque, principalmente as cidades menores, ou vilas, precisam dos peregrinos para movimentar a economia da cidade. Então passam a oferecem um mercado voltado aos peregrinos.
São pratos simples, ofertados com um preço de cerca de 70% do valor de um menu do dia (o equivalente ao nosso executivo), mas que contam com entrada, prato principal sobremesa, pão, água ou vinho,e, dependendo da região onde estiver, licor ou café. E com esta opção, você ainda aproveita para conhecer a gastronomia local, o que a população realmente come no seu dia a dia. E como eles acham que os peregrinos necessitam energia para o trajeto, os pratos são generosamente caprichados.
Bem, acho que consegui passar boa parte das informações importantes. Se tiver dúvidas ou curiosidade sobre algo mais, pergunte aqui é logo responderemos!
E não se esqueça de carimbar o passaporte de peregrino, hein?!
Se quiserem ler mais sobre o Caminho de Santiago, acesse também:
Um pouco mais sobre o Caminho de Santiago
10 Pontos Turísticos de Santiago de Compostela – o que fazer na capital galega
A Variante Espiritual do Caminho de Santiago Português
O Cebreiro: uma das jóias do Camino de Santiago.
Um abraço e “Buen camino!”
