Turismo Rural, Turismo Sustentável e Slow Travel

Turismo Rural, Turismo Ecológico e Slow Travel.

Turismo Rural, Turismo Ecológico e Slow Travel

Você que ama viajar, provavelmente já deve ter ouvido falar em alguma destas categorias de turismo, o Turismo Rural, o Turismo Ecológico e o Slow Travel. Neste post, busco explicar como estas três modalidades de turismo estão interligadas e como elas são formas saudáveis de se fazer turismo.

Primeiramente, vamos esclarecer cada um deles:

O Turismo Rural

Esta é uma atividade turística realizada num espaço rural ou natural. De um modo geral, é implantado em cidades com menos de 2 mil habitantes, ou fora da área urbana em cidades maiores. Normalmente, se instalam em antigas chácaras ou fazendas, reabilitadas, e adaptadas para receber tal atividade. Muitas vezes, trata-se de um negócio familiar, que oferece um serviço de qualidade, por vezes pelos próprios proprietários.

O turismo rural proporciona ao visitante, uma experiência relacionada com um amplo espectro de produtos ligados a atividades da natureza, como trilhas, agricultura, estilos de vida tradicional das culturas rurais, pesca e turismo de vistas.

Assim, diversos fatores estão ligados à busca por esse tipo de turismo, como a riqueza histórica e cultural do destino, bem como a manutenção de um estilo arquitetônico e a riqueza histórico-paisagística e a oferta de produtos regionais e de produção orgânica. Também é levado em consideração os sentimentos que o lugar desperta, a tranquilidade do ambiente, e a harmonia do meio envolvente.

Sobretudo, o incentivo à essa modalidade turística foi bastante benéfico. Isso porque muitos povoados caminhavam para o desaparecimento, levando junto tradições e história. Nesse sentido, o turismo rural trouxe consigo, um incremento em atividades de restauração e conservação, revitalização de zonas naturais e centros históricos e urbanos, o surgimento de cooperativas e a valorização do espaço. Em muitos lugares onde a população está envelhecida e a economia é baseada na agricultura, o turismo não só freou o êxodo, como também promoveu algum crescimento demográfico.

Turismo Rural, Turismo Ecológico e Slow Travel
Lila passeando pela pousada Rectoral de Candás, que recebeu nossa gatinha com muito carinho.

O Turismo Ecológico, Ecoturismo ou Turismo Sustentável

O Turismo Ecológico surgiu nos anos 80 e busca promover um turismo “ético”. Ou seja, é uma atividade que se preocupa com o bem-estar das populações locais e adota critérios de sustentabilidade e preservação.

Apesar de também envolver atividades em meio à natureza, o ecoturismo comumente é tratado de maneira equivocada. Assim, não se refere simplesmente a atividades turísticas baseadas na natureza. A Sociedade Internacional de Ecoturismo, por exemplo, o define como “viagens responsáveis a áreas naturais que conservam o ambiente e melhoram o bem-estar da população local”.

Portanto, o turismo de aventura, praia, acampamento, entre outras envolvendo natureza, não são necessariamente ecoturismo. Muitas vezes, trata-se apenas de turismo de natureza ou verde.

A fim de promover um turismo ético e justo, se estabeleceu critérios a serem seguidos, tanto pelos que ofertam o ecoturismo, como aos que dele desfrutam:

  • Minimizar impactos negativos do turismo, tanto para o ambiente, como para a comunidade;
  • Construir respeito e consciência ambiental e cultural;
  • Proporcionar experiências positivas para visitantes e anfitriões;
  • Proporcionar benefícios financeiros para a conservação e para a comunidade local, e reforçar sua participação da na tomada de decisões.

Contudo, o ecoturismo busca promover uma experiência de integração. Sugere que o viajante observe, aprenda, descubra, experimente e aprecie a diversidade biológica e cultural. Isso, com uma atitude responsável, de proteção à integridade do ecossistema e promoção do bem-estar da comunidade. Ademais, está ligado ao desenvolvimento sustentável. Desta forma, implica, estimula e envolve o viajante em ações de conscientização e responsabilidade com a natureza, recursos naturais e cultura local. Como resultado, contribui para a  conservação da biodiversidade, do ambiente natural e dos bens culturais. Sem contar que foca na participação dos habitantes locais e dá oportunidades de negócio para a população rural.

Turismo Rural, Turismo Ecológico e Slow Travel
Parque Nacional das Ilhas Atlânticas da Galícia,  modelo em sustentabilidade e preservação.

O Slow Travel

O Slow Travel pode ser traduzido como “viagem lenta”. Porém, não quer dizer que o viajante precisa viajar devagar. Na verdade, trata-se de um movimento que pensa o ato de viajar como uma maneira de estabelecer uma ligação entre o viajante e a comunidade visitada. Em outras palavras, visa promover a experiência de uma maneira integrativa, focando-se nas características mais essenciais do local visitado.

Contudo, essa filosofia surgiu a partir do movimento Slow Food, que originou um grupo de movimentos conhecidos como Slow Moviments. Tem como objetivo, contrapor-se à massificação do turismo e suas consequências danosas.

Como adotamos esse modo de turismo, criamos uma página para falar sobre o Slow Travel. Inclusive, ali se encontra um Manifesto, com os princípios que regem esta filosofia.

Turismo Rural, Turismo Ecológico e Slow Travel
Viaje no modo Slow

O Turismo Rural, o Turismo Ecológico e o Slow Travel em harmonia

A partir do que foi explanado, é muito fácil perceber que o Turismo Rural, o Turismo Ecológico e o Slow Travel estão fortemente interligados. Suas bases comuns e essência, visam promover uma experiência de turismo imersiva, de integração e promoção de conhecimento.

Em todos eles, valoriza-se o respeito, a cultura e a comunidade. Não é de se estranhar que, ao chegar em algum hotel ou pousada que empregue algum desses conceitos, acabamos por nos deparar com valores aplicados a outro. Por exemplo, uma pousada rural que também se baseie no turismo sustentável.

Nesse sentido, gostaria de contar um pouco sobre duas experiências que tivemos com o turismo rural na Galícia: o Rectoral de Candás e a Aldea Rural de Pazos de Arenteiro. Aliás, foi destes lugares tão inspiradores que nasceu este post.

 

A Experiência do Turismo Rural

Nos últimos anos observou-se um aumento na busca pelo turismo rural. Na Espanha, por exemplo, durante o verão de 2020, houve um crescimento de 18% da busca pelo turismo rural. Muito se deve à condição sanitária a qual estamos submetidos. Por certo, esse tipo de turismo tornou-se uma opção mais segura aos viajantes, já que foge aos centros lotados. O desejo pelo turismo se manteve, mas as pessoas têm preferido viajar pelo país onde vivem, em viagens familiares, em carro e pelas proximidades. Inclusive, pesquisas apontam que a intenção dos espanhóis em praticar o turismo rural no ano de 2021, é de 89%.

Rectoral de Candás

A charmosa pousada em estilo rústico ocupa a antiga moradia do padre da cidade. A construção é do final do século XVIII e foi reabilitada para receber a hospedaria rural.

O espaço é tranquilo e acolhedor. Em seus arredores estão a aldeia de Candás, com poucas casas (nem todas habitadas) e a pequena igreja, que também abriga o cemitério.

Turismo Rural, Turismo Ecológico e Slow Travel
Igreja de San Martiño, construída no século XVIII.

 

O que fazer em Candás?

Certamente trata-se de mais um dos locais em processo de despovoamento. Isso porque no ano de 2017, o povoado contava com somente 29 habitantes. Infelizmente, essa é uma realidade comum em algumas áreas da Galícia. Um outro exemplo  é o povoado de Outeiro, que está a uns 500 metros de Candás, já totalmente desabitado.

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Casas de Outeiro

 

A província de Ourense nos reserva muitas surpresas. Seja para os amantes da natureza, dos vinhos, das festas populares ou da História e arqueologia. Assim, próximo ao povoado de Candás, também é possível visitar centros medievais, como a bela cidade de Allariz, ou até mesmo, um quartel romano. Isso, sem contar as festas populares tão tradicionais na região.

O Triângulo Mágico do Entroido

Há poucas opções de ócio próximo à pousada, mas para quem viaja com objetivo de relaxar, o cenário pitoresco é perfeito. De fato, caminhadas pelas estradas rurais e outros sendeiros da zona são muito relaxantes. Contudo, estivemos em Candás em 2020, e fomos com o objetivo de conhecer o Entroido, a festa galega de carnaval. Isso porque o vilarejo fica situado próximo ao Triângulo Mágico do Entroido, três cidades com mais de um século de tradição.

Para, quem quiser saber um pouco mais,  deixo aqui os links de dois posts que fizemos sobre essa divertida festa popular:

Laza, Verín e Xinzo de Límia: as tradições do Triângulo Mágico do Entroido Galego.

Mas fora da época do Entroido, as cidades também recebem turismo. Por Laza e Verín, passa uma das rotas do Caminho de Santiago de Compostela. Já Verín, é reconhecida como uma Eurocidade, já que faz fronteira com Chaves, em Portugal, e ambas estão unidas administrativamente. Também em Verín, vale a pena degustar o tradicional prato de polvo oferecido pela Casa do Pulpo.

A região é produtora de vinho Monterrei, mesmo nome da vila que está ao lado de Verín. No alto do monte ainda fica um grande castelo, que na atualidade abriga um parador, e possui ainda uma das mais belas vistas ao pôr-do-sol.

Turismo Rural, Turismo Ecológico e Slow Travel
Igreja de Santa Maria da Graça, no Castelo de Monterrei.

 

Allariz

Esta vila tem origem a partir dos castros da Galícia, mas passa a ser uma cidade no século VI d.C. Desenvolveu-se na Idade Média, e foi tomada pelas tropas napoleônicas, no século XIX. Suas ruas contam sua história. Ainda restam muitos edifícios de arquitetura medieval, que fez com que o povoado recebesse o título de Conjunto Histórico-Artístico em 1971.

A vila acompanha o passo do Rio Arnoia, um conjunto paisagístico digno de algum conto de fadas. O lugarejo, de extrema beleza está apenas a 26 km de Candás.

Turismo Rural, Turismo Ecológico e Slow Travel
Ponte medieval em Allariz.

Aquis Querquennis, as ruínas do Acampamento Romano.

Na cidade de Bande, a apenas 25 km de Candás, encontra-se mais uma atração interessante aos amantes da arqueologia. Ali estão os restos do que foi um importante acampamento militar romano. Na verdade, trata-se de uma grande área onde encontraram não apenas as estruturas militares, como também, muito próximas dali, uma estalagem e termas.

Ademais, a visitação pode ser guiada ou de forma individual. E o local ainda conta com um museu com algumas informações dos achados arqueológicos da área.

Estruturas do acampamento militar de Aquis Querquennis.

 

 

Aldea Rural de Pazos de Arenteiro

A hospedaria Aldea Rural de Pazos de Arenteiro  leva o mesmo nome do povoado que a abriga, Pazos de Arenteiro, no Concello de Boborás, que também se situa na província de Ourense. O acesso ao local não apresenta dificuldades para aqueles que viajam de carro. Entretanto, o transporte público é um pouco limitado.

Almoço na Aldea Rural Pazos de Arenteiro.

A Pousada Rural

A hospedaria fica num aglomerados de antigos casarões de pedra. Possui estrutura simples e aconchegante, e conta com um restaurante e uma área externa verde. Os que buscam uma área para relaxar em meio à natureza certamente vão se encantar por este espaço.  Esta hospedaria admite hóspedes com animais de estimação, e também possui os seus próprios. São três carismáticos labradores, quatro gatos zanzando pelas instalações (e fazendo companhia), cabras, galinhas, patos e até uma jovem vaca.

O restaurante, o único da aldeia, oferece as principais refeições. A comida é caseira e se deve pedir com antecedência. O conceito de sustentabilidade também invade a cozinha da pousada, e portanto, oferecem produtos frescos como saladas de sua horta e geléias do pomar.

Nos hospedamos ali por quatro dias, com o intuito de relaxar e curtir um pouco de natureza. Pudemos contemplar a linda lua cheia desde nossa varanda, acordamos com os galos cantando e hora ou outra, ouvíamos as reivindicações da vaquinha. O local se separa do caudaloso Rio Arenteiro por um bosque, então a música ambiente não poderia ser melhor: o contínuo canto do pássaros e o barulho da correnteza do rio.

Porém, um dos pontos negativos do local, quando viemos, foi que a internet não alcançava os quartos e a área externa. Entretanto, isso não está nada mal para quem quer se desligar um pouco. Outro fator que pode ser um problema para alguns, é que o local não oferece estacionamento. Assim, há que se buscar uma vaga entre as estreitas ruas do povoado ou deixar o carro no estacionamento fora da cidade, a uns 300 metros do centro. Inclusive, recomenda-se não cruzar o povoado com o carro.

O Povoado

Pazos de Arenteiro recebeu, em 1973, o título de Conjunto Histórico-Artístico. Este conjunto é representado por uma igreja de estilo românico, antigos palacetes e casarões. Aliás, há documentos de cerca de mil anos que fazem referência à vila, indicando sua antiguidade.

Um de seus edifícios mais antigos é a Igreja de San Salvador, construída no século XII, em estilo românico. A igreja, e também o Palácio da encomenda, situado ao lado dela, foram encomendados pelos Cavaleiros de Malta, que se assentaram no local por muitos anos. Ainda é possível observar os símbolos da Ordem esculpidos nas pedras dos antigos edifícios.

Pazos de Arenteiro viveu momentos de muito esplendor. Um deles foi no século XVI, quando sua atividade econômica passou a basear-se na vinicultura. A vila cresceu e foram construídos belos casarões. Conta-se que todo o entorno da cidade estava preenchido por vinhedos.

Porém, no século XIX, uma praga devastou as plantações de uvas de toda a Europa. O povoado padeceu e muitos de seus habitantes se viram obrigados a deixá-lo para buscar outro meio de subsistência.

Mais adiante, no início do século XX, houve outra onda migratória. Desta vez, famílias inteiras aventuraram-se na ida para a América. Muitos homens da região trabalharam na construção do Canal do Panamá.

Por décadas, o vilarejo permaneceu em deterioro. Em tempos mais recentes, a produção de uvas foi retomada, mas não na mesma proporção de seu glorioso passado. E graças ao turismo rural, na atualidade, parte de seu patrimônio arquitetônico vem sendo restaurado e conservado.

Vista da vila de Pazos de Arenteiro.

O que fazer em Pazos de Arenteiro?

Pois, se a ideia é se esquecer do carro,  o povoado pode oferecer maravilhosas experiências em meio à natureza. A começar por uma caminhada pelo povoado, onde se pode observar os antigos casarões e palácios com seus brasões. Ou então, caminhar pelo entorno da vila, repleto de vinhedos. Também se pode visitar um antigo moinho às margens do Rio Avia, ou até mesmo sentar-se por ali para observar sua beleza.

Contudo, o vilarejo está cercado de belíssimos bosques e dois caudalosos rios. Portanto, há diversas opções de trilha para se fazer, todas bem sinalizadas com início no centro da cidade. Embora os percursos sejam de baixo de dificuldade, em geral, possuem trechos que não contemplam pessoas com mobilidade reduzida. Cabe dizer que a maior parte dos trajetos que saem da vila possuem pouca quilometragem, já que, na verdade, são trechos de outras rotas. Desta forma, fica ao critério de cada um fazer estas pequenas trilhas, ou as de maior distância.

O que vale relatar é que os galegos costumam intitular sua terra de “Galícia Mágica”, o que se torna totalmente cristalino por aqui. Então, gostaria de deixar aqui, algumas opções:

Sendeiro do Pozo do Fume

O roteiro pode ser iniciado na Igreja de San Salvador. A rota é linear, de distância total de 2,4 km. Inicia-se descendendo por entre antigos casarões.  Infelizmente, alguns deles estão abandonados. Logo saímos do vilarejo e detrás do pequeno bosque, se avista o Rio Arenteiro. Caminhamos uns 500 metros e chegamos na Ponte do Santo Sepulcro (Ponte do Arenteiro). Tal titulação refere-se à Ordem dos Cavalheiros de Malta, detentores daquelas terras na Idade Média.

Em suma, a ponte medieval tem origem entre os séculos XII e XIV. Está formada por dois arcos e uma de suas faces exteriores está adornada com uma figura humana. Todavia, o que esta figura esculpida em pedra representa, não está claro. As hipóteses são a de que se trata do chefe da Ordem, da pessoa que encomendou a construção da ponte ou do apóstolo Santiago.  Por sinal, pela ponte passa o Caminho Miñoto, uma variante do Caminho Português à Santiago.

Porém, a rota do Pozo do Fume não cruza a ponte. O caminho segue em outra direção, desta vez, margeando o volumoso rio. O rio de inúmeras cascatas corta os bosques, nos projetando em uma pintura bucólica. No entanto, esta é uma obra viva, com os sons e cheiros da natureza.

Para chegar até o Pozo do Fume, há uma subida, ora por rampas de madeira, ora por caminhos de terra. É importante que se tenha muita atenção, já que o terreno é irregular e a madeira úmida torna-se escorregadia. O caminho segue entre árvores, rochas, flores e cogumelos.

Por fim, alcançamos o poço, ponto final da trilha. Suas águas calmas são precedidas por uma furiosa queda d’água, e dali, segue com força o seu curso. Contemplamos o local do alto de uma pedra cercada por grades de proteção e retornamos pelo mesmo caminho.

 

Trilha da Ponte da Cruz

Considerando a saída desta rota circular na a igreja da cidade, ela compreende cerca de 3 km. É necessário seguir até a Ponte do Rio Ávia e atravessá-la. Depois, continuamos pela estrada rural, à esquerda. Em 500 metros estão as ruínas da Ponte da Cruz, que atravessa o Rio Avia.

Atualmente, resta apenas uma parte da ponte:  um de seus 4 arcos originais. Ela está localizada próxima ao ponto de confluência dos rios Avia e Arenteiro. A propósito, a imponente estrutura medieval foi danificada durante a Guerra da Independência.  Na situação, houve a tentativa de conter o exército napoleônico, evitando que este chegasse à Ribadavia. Após esse episódio, a Ponte da Cruz entrou em deterioro, até o que se vê na atualidade.

É preciso  atravessar as ruínas da ponte para avançar na trilha. Para isso, há que percorrer alguns metros de calçada plana e depois baixar por uma escada irregular. Portanto, esse trecho é inviável para pessoas com dificuldades de mobilidade. Após a descida, há que se atravessar outras duas pontes em madeira, construídas para a substituição da parte destruída. Aqui se inicia o trecho mais bonito da trilha.

O caminho vai margeando o Rio Arenteiro, que exibe cascatas formadas pela presença de enormes pedras em seu curso.  Mas se de um lado se observa a beleza do rio, do outro, o que acompanhamos é o passado da vila. Conforme avançamos pelo sendeiro, vamos passando pelas ruínas de casas e os restos dos antigos vinhedos arrasados pela praga. Nos anos que se seguiram ao abandono da área, pouco a pouco, a natureza foi tomando conta.

Mais adiante, as Trilhas da Ponte da Cruz, e do Pozo do Fume se cruzam na Ponte do Santo Sepulcro. Dali se dá o retorno até a vila.

Ruínas da Ponte da Cruz

Caminho à  Ribadavia

A rota completa até Ribadavia é de 10 Km. Todavia, é possível pegar um desvio por volta do quilômetro 5 e retornar à Pazos de Arenteiro pela trilha da Ponte da Cruz. Seu início fica justo em frente a Ponte do Rio Avia. Basta atravessar a estrada rural e já se verá as indicações.

Tal qual os roteiros mencionados acima, este sendeiro entre os bosques é de extrema beleza. Contudo, apresenta uma característica bastante distinta dos outros. Aqui, a floresta vem tomando lugar das antigas estruturas de vinhedos, abandonadas após o século XIX.

Ao passo que as famílias foram deixando suas terras, o tempo e a natureza foram tomando conta do lugar. Assim, ficaram apenas os vestígios do que outrora fora uma terra próspera. Os muros empedrados construídos para que se pudesse plantar as videiras no terreno íngreme permaneceram ali, nos dando uma idéia da dimensão dos antigos cultivos.

A trilha se segue sempre por este cenário, que ora apresenta uma vivenda em ruínas, ora evidencia apenas o local das plantações. Então, a pouco mais de 4 Km de caminhada, chegamos à vila abandonada de Viñoa.  Pelo que observamos, tratavam-se de boas construções e que as casas bastante grandes.

Assim que a vila acaba, há uma estrada de terra que desce o monte. Seguindo por ela, chegamos à estrada rural que dá acesso a Pazos de Arenteiro. É necessário caminhar 800 metros por ela para chegar até a Ponte da Cruz. Desde esse ponto, é possível decidir entre retornar ao povoado pela estrada ou seguir a Trilha da Ponte da Cruz.

Ruínas da Aldea de Viñoa.

Caminho à Boborás

Este caminho sai do centro da cidade e vai até a vila de Borborás. O percurso compreende 16 km, atravessando os bosques da região. Entretanto, não foi a rota mais bonita da vila. Assim, decidimos cumprir apenas um trecho e retornar para a vila. Escolhemos seguir até a Cova da Gafa, uma antiga estrutura em pedra que guarda diversas lendas.

Nesse sentido, estamos falando de uma estrutura em pedras que forma uma espécie de caverna. Após receber uma série de adequações, ganhou um aspecto de moradia, parecendo ter saído de um conto.

Assim, diz-se que ali viveu uma bruxa, uma personagem perversa e inumana. Outra lenda é a de que a cova serviu de habitação a uma leprosa, que teve que ir-se da vila e isolar-se. Ao que tudo indica, em tempos remotos o local era de difícil acesso, o que alimentava as crendices.

Como resultado, esse trajeto até a Cova da Gafa e o retorno até a vila, nos rendeu uma caminhada de quase 8 Km.

Cova da Gafa

 

Da mesma forma, se quiser conhecer um pouco da região, há muitas opções de passeio. Com isso, apresento algumas opções num raio máximo de 35 Km de distância. Mas vale saber que há inúmeras outras.

Termas de Prexigueiro

A província de Ourense está repleta de balneários. Isso se deve aos mananciais proveniente das chuvas, e também da estrutura geológica regional. Sobretudo, quanto mais próximo da cidade que dá nome à província, mais identifica-se a presença de estâncias termais. Em todo o território, estão espalhadas termas naturais, de águas minerais medicinais.

A cidade de Ourense, por exemplo, é famosa pelas termas romanas. Dizem até, que este foi um dos motivos pelos quais os romanos se instalaram por ali, por volta do século I. Ali, é possível desfrutar de banhos públicos ou privados, ainda nos mesmos moldes que os romanos faziam a milênios.

Já na região do Ribeiro, pudemos visitar as Termas do Prexigueiro, a 20 km de Pazos de Arenteiro. A Boutique SPA, criou um ambiente termal inspirado nas termas japonesas. Portanto, a estrutura das termas está disposta em um circuito de seis piscinas aquecidas e dois poços de água fria. Ademais, os banhos encontram-se ao ar livre, cercados por bosques de pinheiros. A temperatura nas piscinas aquecidas variam entre 36 e 41ºC. Já os tonéis de água fria, pode chegar a -10ºC. Para ter acesso às termas, o preço €5,70, e o circuito dura em torno de 90 minutos. O local ainda oferece serviços de estética e massagens relaxantes e um restaurante.

Com a finalidade de respeitar a privacidade dos banhistas, o estabelecimento não permite fotos e filmagens. Então, fiquem com uma ilustração do Felipe Estevez, inspirada nessa maravilhosa e relaxante experiência.

Ilustração
Ilustração por Felipe Estevez

Monastério de Osera

A construção desse grande castelo se deu na primeira metade do século XII, por monges da Ordem Cisterciense que buscavam vivenciar a religiosidade em isolamento. Ao longo dos séculos, o monastério foi palco de momentos gloriosos, mas também de infortúnios. Alguns exemplos são, um incêndio no século XVI, que comprometeu suas edificações e diversos saques. Foi reconstruído no século XIX, mas passou por um século de abandono, necessitando ser restaurado no início do século XX.

Entretanto, na atualidade o monastério se mostra imponente. O complexo é gigantesco e é possível visitar tanto seu exterior, como seu interior. A visita é completa, passando pelo claustro, jardins, igreja, antiga botica, antiga sala capitular, cozinha e outros espaços. São muitos detalhes de arquitetura para se observar, algumas pinturas e claro, muita história.

Oseira está a 32 km de Pazos de Arenteiro. Mas a popularidade local não é apenas pelo monastério. A apenas 9 km dali, a cidade de Cea faz fama pelo pão que fabrica. O Pão de Cea, de receita centenária, é o único da Europa que possui Denominação de Origem. Para tal, é preciso que se utilize os ingredientes e modo de preparo, exatamente como se fazia no passado. O Pão de Cea possui uma casca mais grossa e um miolo esponjoso. Contudo, o alimento é perfeito para acompanhar as refeições galegas, que sempre se segue de pão.

Fachada do Monastério de Santa María de Oseira.

 

Castro de San Cibrán

Os castros são espaços onde outrora viveram os povos da Galícia. Muitas vezes chamados de celtas, os castrejos viviam em comunidade, dominavam a agricultura, a pesca, pecuária e a metalurgia. Eles habitaram a Galícia entre os séculos VII a.C. e II d.C., quando travaram prolongadas escaramuças contra os romanos em defesa de seus territórios.

Posteriormente ao século II, os castros foram se esvaziando e o tempo foi tomando conta de suas antigas estruturas. Atualmente, existem diversos espaços escavados, estudados e convertidos em museus. Um dos exemplos é o Castro de San Cibrán, habitado entre os séculos II a.C. e IV d.C.. Este exemplar é um dos maiores que se conhece na Galícia, abrangendo 10 hectares, onde estima-se que a população possa ter chegado a 4 mil pessoas.

Por certo, o que se testemunha nas ruínas nos dá apenas uma idéia da grandiosidade do lugar no passado. Ao longo dos séculos em que foi habitado, passou por modificações e reestruturações segundo as demandas de seu tempo. Por isso, o que se vê em suas construções são as estruturas mais tardias, e se diferem das casas mais conhecidas, de característica circular.

O preço da visita é de €5, podendo-se conhecer o castro e também o museu, que conta sobre as descobertas da região e a vida dos castrejos.

Ruínas do Castro San Cibrán. O que se vê é a parte onde ficavam as moradias.

Ribadávia

Ribadávia certamente possui um dos centros medievais mais bonitos da Galícia. Fundada pelos castrejos e ampliada pelos romanos, chegou a ser nomeada capital do Reino da Galícia entre os anos de 1064 e 1071. Aliás, nesta mesma época, inicia-se na região, o cultivo de vinhedos e a produção de vinhos. Tal tradição perdura até os dias atuais.

Essa histórica cidade ainda guarda construções que contam a sua história. Por isso também, seu centro histórico foi declarado Conjunto Histórico-Artístico. Assim, se pode visitar as ruínas do Castelo da família Sarmiento, destruído na Revolta Irmandinha, diversas igrejas centenárias e o antigo bairro judeu, com suas construções medievais.

Aos apreciadores de um bom vinho, há diversas vinícolas nos entornos da cidade, além de bons restaurantes e bodegas na cidade, para que se possa apreciar um bom Ribeiro.

Apreciando um bom vinho (Canción de Elisa) em um terraço no antigo bairro judeu de Ribadávia.

Comer Polvo à Feira em O Carballiño

Apesar desta iguaria parecer um pouco estranha aos que buscam prová-la pela primeira vez, este é um dos produtos galegos mais marcantes. As receitas são variadas, sendo a mais tradicional, O Polbo A Feira (ou polvo à galega).

O litoral da Galícia tem como principal atividade a pesca. Entretanto, engana-se quem pensa que a venda do polvo está restrita às cidades litorâneas. Ao contrário. O prato é vendido em todo território galego. Além disso, as melhores ofertas estão, na verdade, no interior.

Primeiramente, é importante saber que na Idade Média, parte das terras galegas estavam sob gestão da Igreja Católica. Portanto, era comum que os impostos pagos à instituição fossem realizado com produtos. Assim passou com a região do Ribeiro, que estava sob influência do Monastério de Osera e um dos tributos cobrados era o polvo, dado seu valor econômico. Desta forma, a região criou tradição no preparo do alimento. Assim sendo, o município de O Carballiño, que está a 14 km de Pazos, tornou-se uma das referências na oferta do produto. Inclusive, a cidade realiza anualmente a Festa do Pulpo, em que a iguaria é a estrela. A festa é realizada no segundo domingo de agosto, entre os bosques do parque municipal, que está banhado pelo Rio Arenteiro.

Pulpo a Feira, servido no tradicional prato redondo de madeira.

 

Espero que tenham gostado e inspirados a praticar (ao menos alguma vez) essas três categorias turísticas.

Um turismo consciente e ético contribui não só com a expansão desta atividade.  Contribui também com o crescimento e desenvolvimento de uma comunidade e pessoal.

30 comentários em “Turismo Rural, Turismo Ecológico e Slow Travel.”

    1. LUIZ GUSTAVO ALEIXO DRAGHI

      Na, não consigo parar seu texto. Quantos lugares é quanta beleza! Acho que o show travel, assim como o turismo local, vieram pra ficar!!!!

      1. Realmente a gatinha rouba a cena. Mas a viagem é fantástica para quem gosta de história, trilhas e a tranquilidade dos pequenos povoados. A gente encontra a felicidade nas pequenas coisas. Parabéns pela reportagem.

    1. Exatamente. Mas outras situações do cotidiano também favorecem essas modalidades. Uma delas é a correria, que acaba gerando muita ansiedade. E cada vez mais também, as pessoas têm tido consciência ambiental e cultural.

  1. Cintia Grininger

    Acredito que essas três modalidades de turismo ganharam um novo fôlego depois dessa pandemia mundial – as pessoas estão precisando respirar, e nada como a conexão com a natureza para isso. Eu amo turismo urbano mas também adoro ecoturismo, e procuro balancear bem os dois tipos. Que lindos esses lugares que você visitou na Galícia!

  2. Nós sempre fomos adeptos do Slow Travel, mas o turismo rural começamos por conta da pandemia e acho que nunca mais vamos abandonar. Bom demais ficar no meio do mato rsrs

  3. Claudia Tiscoski

    Sensacional! Muito importante entender esses diferentes contextos. O turismo rural e o ecoturismo sempre foram nossa principal busca como turistas e percebemos que neste cenário que vivemos desde 2020 aumentou muito a quantidade de adeptos. Acho bem importante não perder a consciência ambiental, como você colocou no post.

  4. Olá flor, tudo bem?
    Amei seu post, sinceramente não conhecia o conceito de Slow Travel, mas com toda certeza irei adotar o conceito e a prática.
    Por último, gostaria de registrar o quanto adorei suas fotos 🙂
    Abraços

  5. Eu sempre me identifiquei com o conceito de slow travel e cada dia que passa consigo colocar mais em prática! Lendo o post fui teletransportada para uma viagem que fiz para os Gerês em 2019 e que delícia de viagem! Agora eu já quero conhecer Pazos de Arenteiro!!

  6. Roberto Caravieri

    Eu acho que depois de tudo isso que estamos passando o turismo rural, ecológico e slow travel se tornam cada dia mais fortes e sinceramente, eu curto muito essas modalidades. Acho que estou um pouco cansado de destino superestimados e cheios de gente, sabe? Acho que todos nós a partir de agora vamos mudar um pouco nossos costumes de viajar. Adorei o texto!

  7. Encantada com esses lugares, aumentou minha vontade de conhecer a Galícia. Não sabia de nenhum desses lugares, amei as dicas. Esses tipos de turismos aumentaram muito principalmente devido ao momento que estamos vivendo, essa integração com a natureza nos faz um bem enorme. Parabéns pelo post!

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