Conheça as principais rotas do Caminho de Santiago

Conheça as principais rotas do Caminho de Santiago

O Caminho de Santiago de Compostela é um dos maiores atrativos da Espanha. Certamente o percurso do Caminho Francês é o mais conhecido, levando muitas pessoas ao equívoco que pensar que este é o único percurso realizado. Mas não é! Existem diversos roteiros saindo de lugares distintos. Muitas vezes eles se encontram. Outras vezes, se bifurcam e tomam outros rumos.

Cabe lembrar que para conseguir a Compostela, documento que atesta a realização do caminho, há que se fazer uma das rotas oficiais, reconhecidas pela Diocese de Santiago de Compostela. Assim, vamos apresentar as principais rotas, informando, de maneira objetiva, sobre as etapas, variações e dificuldades.

Também gostaria de salientar que as etapas enunciadas são sugeridas, já que existe um padrão entre os peregrinos em realizá-las. Ademais, estas cidades torna-se referência por aportarem maior estrutura. Assim, se pode começar o caminho de qualquer cidade da rota, e nas etapas, parar onde achar mais conveniente . Mas é importante que cada um conheça o seu ritmo e resistência física para decidir se cabe a si cumprir as etapas como tal, em mais ou menos tempo. Contudo, nossa sugestão é que se verifique as ofertas e estruturas de estadia entre estas etapas.

 

As rotas dos Caminhos de Santiago

 

O Caminho Primitivo

O Caminho Primitivo é a rota de peregrinação mais antiga até Santiago de Compostela. Teve início no século IX, quando o monarca Afonso II realizou a rota de peregrinação com sua comitiva, desde as Asturias. Em 2015 foi reconhecido, junto com o Caminho do Norte, Patrimônio da Humanidade pela UNESCO.

Esta rota sai das Astúrias e compreende cerca de 325 km e pode ser feito em 14 etapas. Contudo, o caminho atravessa a Cordilheira Cantábrica e portanto, possui trechos de muito aclive e declive. Também possui trajetos longos e com vilas sem muita estrutura entre as etapas. Assim, é considerado de dificuldade alta, então, prepare os joelhos!
Todavia, é uma rota muito bonita, onde se desfruta tanto da cultura asturiana como galega e com paisagens rurais e de bosque.

Antes de tudo, informo que na etapa 5, é possível escolher entre dois caminhos. Se escolher o caminho que passa por Hospitales, o trajeto é de 24,1 km. Já o caminho que passa por Pola de Allande, é de 28,6 km.

No trajeto da etapa 12, o Caminho Primitivo encontra-se com o Caminho Francês, seguindo por este até Santiago.

O Caminho de San Salvador

Há ainda o Caminho de San Salvador, que, em 5 etapas, vai de León até Oviedo, onde se visita a Catedral de San Salvador. Ali, o peregrino pode solicitar um certificado, a Salvadorana. O caminho atravessa a Cordilheira Cantábrica e portanto, possui um nível de dificuldade bastante elevada. Também é uma rota mais desabitada, com poucos peregrinos, sendo recomendado não fazer o percurso desacompanhado.

A partir de Oviedo, os peregrinos integram o Caminho Primitivo até chegar em Santiago de Compostela.

 

A Famosa Rota do Caminho Francês

O Caminho Francês possui fama internacional. Além do renome, é considerado o de maior tradição, sendo percorrido desde o século XII. Pois como o próprio nome anuncia, sai da França e atravessa boa parte da Espanha. O trajeto dede a França é variado, podendo sair desde Mont Saint Michel, Loudes, Paris, Le-Puy, ente outros. Mas o mais comum é que as pessoas saiam de Saint Jean Pied de Port, já na fronteira com a Espanha.

Assim, o caminho já se inicia em um dos trajetos mais difíceis, já que atravessa os Pirineus. Por falar nisso, a rota é considerada como nível mediano de dificuldade já que percorre quase 800 km em ao menos 33 etapas. Nele, os peregrinos também enfrentam as adversidades do clima, já que passa por regiões muito secas da Espanha. Assim, recomenda-se não realizar este percurso durante o verão ou o inverno. Contudo, as paisagens são muito bonitas e diversificadas, já que vai das montanhas dos Pirineus às paisagens áridas de Aragão e Castela e Leão, os intocados morros dos Ancares, até chegar aos verdes bosques galegos.

E um trajeto tão longo não poderia deixar de ter suas variantes. Ou seja, ao longo das etapas, existem rotas alternativas com finais em lugares distintos, ou variações ao longo das etapas. Entretanto, vou me ater ao caminho mais tradicional, já que este tópico é bastante longo.

Todavia, existe um fator que pode ser um incômodo na rota do caminho Francês: a massificação. Cerca de 85% das pessoas escolhem este roteiro de peregrinação até Santiago de Compostela.

 

O Caminho de Santiago Português

O Caminho Português, como o próprio nome diz, sai de Portugal. Em geral, os peregrinos saem de Lisboa, Coimbra ou Porto. Desde Lisboa, o percurso compreende 615 km, e pode ser realizado em 26 etapas. De um modo geral, é um caminho de fácil execução.

Esta rota existe desde o século XII, enquanto rota de peregrinação. Entretanto, os peregrinos utilizavam a antiga estrada romana, Via XIX, que ligava Braga a Astorga.

O Caminho Português Central é o que mais recebe peregrinos, porém, existem outras rotas que saem de Portugal. Alguns deles estão sendo revitalizados, como o Caminho Português da Costa, que leva os peregrinos por paisagens bastante distintas.

 

A Belíssima Rota do Caminho Português da Costa

Saindo de Porto, os peregrinos percorrem 275 km, boa parte pela costa atlântica de Portugal e Galícia. As paisagens são exuberantes e, de certa forma, diversificada. Isso porque além de percorrer o litoral, também passa por faróis, castros bosques e pelo Rio Minho. No total são 13 etapas e em Redondela, esta rota se junta ao Caminho Português Central. A execução pode ser considerada de baixa dificuldade.

 

Rota do mar de Arousa e Rio Ulla

Este percurso é conhecido como a origem de todos os caminhos. Isso porque percorre a suposta rota realizada em barco com os restos mortais do Apóstolo para chegar na Galícia. Este trânsito em barco se chama Translatio.

Existem duas formas de se fazer esta rota. Uma delas é a Variante Espiritual, que fizemos em 2020 e escrevemos de maneira detalhada neste post. A outra, é a Rota do Padre Sarmiento. Há também, barcos que saem de O Grove e assim, é possível fazer mais de uma etapa em barco. Ah, vale lembrar que a parte feita em barco também pode ser realizada a pé. Assim, na etapa 3 da Variante Espiritual se caminharia 34 km. E na etapa 8 da Rota do Padre Sarmiento, 25,3 km.

Aliás, as duas rotas são caminhos alternativos do Caminho Português. Assim, aqueles que escolhem algum dos percursos portugueses, pode optar por finalizar o caminho (a partir de Pontevedra) de uma maneira bastante autêntica e imersiva.

 

A Via da Prata

A Via da Prata, tradicionalmente se inicia em Sevilla e também é conhecida como Caminho Mozárabe. Se origina a partir das estradas romanas, que ligavam o noroeste com o sul da península, ou mais precisamente as importantes cidades de Asturica Augusta (Astorga) e Emerita Augusta (Mérida). A construção das estradas teve início no século I d.C., e finalização, no século seguinte.

Por volta do século X, as calçadas romanas foram utilizadas pelos árabes na conquista dos territórios hispânicos, e mais tarde, na Idade Média, (após a retomada dos cristãos, a via passou a ser utilizada pelos peregrinos que saiam da Extremadura e de Andaluzia e dirigiam-se à Santiago de Compostela.

Dos caminhos convencionais e reconhecidos como rota jacobea, a Via da Prata é considerada a de maior percurso, e pode ultrapassar os 990 km, dependendo do roteiro escolhido. Portanto, ela atravessa regiões de cultura e paisagens muito distintas: Extremadura, Andalucía, Castilla y León e Galícia.

Contudo, esta rota também possui algumas variantes, que por sua vez, vão recebendo outros nomes. Dois exemplos são o Caminho Sanabrés e o Caminho Fonseca. Também cabe ressaltar que a variante que passa por Astorga, encontra-se e segue, em suas etapas finais, pelo Caminho Francês. Portanto, vou indicar o Caminho Sanabrés, que achei mais interessante.

A Via da Prata, em sua total extensão, cruza uma região de clima árido, e assim, não se recomenda realizar o trajeto durante os meses de verão. Nas regiões de Extremadura e Andalucía, as temperaturas podem ultrapassar os 40ºC. Assim, o ideal é planejar sua caminhada entre os meses de primavera e outono. 

 

Caminho do Norte

O Caminho do Norte, também conhecido como Caminho da Costa,  percorre a costa cantábrica e é considerado uma das rotas mais bonitas. É importante considerar a dificuldade deste percurso, já que atravessa montes e se caminha bastante pelo asfalto. Ou seja, o caminho não está o tempo todo em paisagens de costa. Principalmente ao entrar na Galícia, onde passa a dirigir-se ao interior.

Ao todo são 822 quilômetros, realizados em 36 etapas. Esta é considerada uma boa opção ao Caminho Francês, para aqueles que fogem da massificação turística.

 

O Caminho Inglês

O Caminho Inglês era bastante utilizado por pessoas do norte da Europa e sobretudo, os ingleses. Estes peregrinos chegavam de barco à Galícia, aportando em Ferrol ou em A Coruña e depois íam a pé até Santiago de Compostela. Assim, como se pode deduzir, existem duas rotas possíveis do Caminho Inglês, que é também um dos mais curtos. As paisagens são muito bonitas, entre alcantilados no início do percurso, cidades históricas e muita natureza.

As duas rotas se encontram em Hospital de Bruma, por onde seguem até Santiago.

O Caminho Inglês por etapas:

Rota Caminho de Santiago Inglês desde Ferrol

São cerca de 112 km realizados em 05 etapas. É um caminho considerado de dificuldade baixa, onde os trechos mais difíceis são os das etapas 1 e 3, devido ao aclive e  à distância.

Rota Caminho de Santiago Inglês desde A Coruña

O percurso do Caminho Inglês desde A Coruña é mais curto. Assim, este caminho compreende apenas 72,4 km e pode ser feito em 4 etapas, sendo considerado de baixa dificuldade.

 

O Alternativo Caminho de Inverno

Acredita-se que esta rota era anteriormente, um desvio do Caminho Francês. No inverno, algumas regiões ficam impossibilitada ao trânsito de peregrinos já que as condições climáticas as tornam perigosas. Assim, este suposto desvio seria uma opção para que os peregrinos conseguissem realizar seu ato de fé, mesmo no inverno.

No total, o Caminho de Inverno possui 265 Km e segue o curso do Rio Sil. Passa por lugares fantásticos, como Las Médulas (cânions criados pelos romanaos a partir da extração de ouro e prata), o Vale do Sil e a Ribeira Sacra com suas encostas repletas de vinhedos. Certamente as belas paisagens são uma distração para os trajetos de maior dureza nesta rota que é considerada de dificuldade média.

 

Caminho de Madrid

O Caminho de Madrid percorre 323 quilômetros em 13 etapas até chegar em Sahagún e unir-se ao Caminho Francês. Ao todo são 660 km no total, que podem ser realizados em 29 etapas.

Embora se possa iniciar esta rota de qualquer cidade nos arredores de Madrid, desde a Porta do Sol sai do Km 0, o ponto de onde partem as rodovias nacionais.

A rota possui nível médio de dificuldade e atravessa paisagens variadas, passando por Segovia e pela Serra de Guadarrama, por exemplo.

 

O Místico Caminho de Finisterre-Muxía

O caminho não se finaliza em Santiago de Compostela. Existe um prolongamento do caminho, que leva até a Costa da Morte, no que se acreditava ser o Final da Terra.

Finisterre, ou Fisterra foi, ao longo de séculos, um lugar cultuado pelos povos originais que habitavam a região. Ali, acreditava-se ser o local onde as almas dos mortos subiam ao céu.  Assim, já era destino de contemplação mesmo antes da chegada dos romanos.

Na Idade Média, essa reputação ainda se mantinha e fazia com que muitos peregrinos prolongassem sea rota até o destino. Com o passar do tempo, algumas tradições se criaram. Uma delas é assistir ao pôr-do-sol, que parece mergulhar nas vastas águas do oceano. Outra tradição, agora proibida, era queimar as botas utilizadas ao longo do caminho, num símbolo de encerramento de ciclos e renascimento.

 

Planeje o seu Caminho de Santiago

Pra ajudar no planejamento, eu costumo ir à fundo nas pesquisas, consultar sites, aplicativos e até comprar livros. Então, deixarei aqui, algumas opções de sites e aplicativos que considero de qualidade informativa a ponto de nos dar uma boa idéia de como será o caminho.

O Gronze

O site Gronze faz um bom apanhado das rotas. Sobretudo, ele traz informações detalhadas das rotas, etapa por etapa, variações do caminho e até a história delas. Mas o interessante é que o site se utiliza da participação dos peregrinos para confeccionar seus textos, ofertando aos seus leitores algo além da visão neutra de um guia.

Camino de Santiago

Ademais, costumo utilizar o site Camino de Santiago. Como ele é desenvolvido e alimentado pela Xunta de Galícia, está bastante atualizado e com dicas bastante válidas.

Albergues del Camino de Santiago

Da mesma forma, há o site Albergues del Camino de Santiago. Nele, embora as informações sejam mais enxutas e abarque poucas rotas, se pode ter uma lista de albergues em cada etapa. Com isso, podemos consultar facilmente as ofertas e preços na hora de planejar.

Camino Ninja

Por fim, gostaria de indicar o aplicativo Camino Ninja. As vantagens deste aplicativo é que, primeiramente, ele está em constante desenvolvimento e atualização. Isso porque o seu desenvolvedor é um peregrino percorrendo todas as rotas do caminho de Santiago, e com isso, ele vai alimentando frequentemente o aplicativo. Em segundo lugar, temos a proposta informativa do aplicativo. Portanto, no Camino Ninja você encontra informações práticas, quantitativas e detalhadas das etapas. O que me fez gostar do aplicativo foi principalmente, as informações que ele agrega durante as etapas. Por exemplo, por quais povoados se passa ou em quantos quilômetros encontraremos serviços (café, hospedagem, farmácia, etc).

Vale lembrar que os custos podem variar bastante. Isso porque depende de vários fatores. Um deles é a época do ano em que se realiza o percurso. No final do outono e inverno, por exemplo, a oferta de albergues, bares e restaurantes pode estar reduzida. Outro fator é a rota a se percorrer. As rotas mais famosas possuem maior estruturas, porém, são mais caras. Por último, gostaria de lembrar que os hábitos e escolhas do peregrino em relação à alimentação e hospedagem também irão influenciar no valor gasto durante o caminho.

Mas a escolha da rota é algo muito pessoal, já que tem a ver com gostos, desejos e também disponibilidade de tempo e financeira. Mas a verdade é que não existe uma rota melhor que a outra, principalmente porque o caminho não é sobre lugares e sim, sobre a experiência. Então, não importa qual será a rota escolhida, afinal, todos os caminhos levam à Santiago de Compostela!

 

Gostou deste post com as principais rotas do Caminho de Santiago?

Então não deixe de ler os outros posts que fizemos sobre o caminho de Santiago de Compostela. Os posts com a temática se encontram nesta página aqui.

E não se esqueça de comentar o que achou deste post ou de nos contar se tem a intenção de fazer o caminho e qual seria a rota escolhida!

Estaremos esperando a sua resposta!

Um abraço e até breve!